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edição de 11 de fevereiro de 2019

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STORYTELLER olleon/iStock Voos antigos Pois é, sonhei. Mas não um sonho absurdo, era uma reedição de um acontecimento verdadeiro LuLa Vieira policial se aproxima do helicóptero O e grita: “Polícia Federal! Mãos na cabeça!”. Trêmulo, cruzo as mãos na nuca e tento manter um mínimo de compostura. Murmuro palavras que se perdem no mato em torno do pequeno campo onde a aeronave pousara. Tento me virar para entender melhor o que acontecia. Gritam comigo: “Quieto, senão atiro! Deita aí”. Deito. O policial se aproxima e me toca. Lula, Lula! Você está bem? Não sabia que minha mulher era da Polícia Federal. Pois é, sonhei. Mas não um sonho absurdo, era uma reedição de um acontecimento verdadeiro. A cena passou dezenas de vezes na minha cabeça. Aos fatos, como diria meu advogado no tribunal, tentando provar minha inocência. Vamos a eles. Eu estava em Iguaçu, numa convenção da IBM, minha cliente. Na programação surgiu uma tarde livre e Polika e eu resolvemos aproveitar a folga. Não nos ocorreu ideia melhor do que alugar um helicóptero e fazer um voo panorâmico sobre as cataratas e pela região. O diálogo que tivemos no pedaço de terra que servia de pouso foi digno de Dashiel Hammett. Vários homens bebiam cerveja sentados em barris de gasolina. Perguntei a um deles: “Vocês alugam helicópteros?” Resposta: “se alugasse você queria o quê?” “Voar por aí”, respondo. “Por aí onde, se a gente alugasse helicóptero?” Digo: “Por aí, aí”, fazendo um giro com as mãos. O diálogo estava ficando para Sergio Leone algum botar defeito. “Caso alguém quiser dar um giro por aí, não custava menos que 2 mil contos”. Entrando no jogo, banquei o durão, Lula – o Foda da Fronteira. “Se eu quisesse um helicóptero eu não pagaria mais que mil e quinhentos por hora”. O cara cuspiu no chão e sentenciou: “tem o Vesgo alí que se alugasse o helicóptero dele ia por mil e setecentos”. Falei grosso: “Chama o Vesgo”. Veio o Vesgo. Que, para minha surpresa, não era vesgo. A não ser que o defeito no andar lembrasse algum estrabismo. Ele pisava com os dois pés tortos para o mesmo lado, como se quisesse ir, mas não indo. Mascava algo que imaginei que fosse fumo de rolo, até hoje não sei. Podia ser chiclete de maconha ou linguiça de erva-mate. Baixinho, cara de índio. Paraguaio, mas estranhamente com um leve sotaque gringo. O piloto que mamãe pediu a Deus para me conduzir pelos céus. Apontou para um helicóptero que mais parecia um Fusca amassado com um ventilador gigante no teto. Acho que ficamos mais com medo de dizer que desistimos do que voar naquela joça. O Vesgo poderia ter um ataque de rejeição, sabe-se lá o tipo de trauma que trazia no peito. Pelo ambiente, problemas psíquicos deviam ser tratados à bala. Era melhor voar. Fomos. Ah, estava esquecendo. Surgiu, não me lembro por que nem de onde, um japonês. Pequenino, magrinho, sorridente. E entrou conosco. O banco dava lugar para três e ele se acomodou no meio. Eu e Polika cada um numa janela. Na frente, o Vesgo deu um último gole na garrafa de cerveja, jogou numa bolsa aos seus pés e deu início aos procedimentos de decolagem. Que se constituíram em torcer uma chave presa a uma caveira, possivelmente de prata, e um empurrão no manche. E a engenhoca subiu. Ganhou os céus como uma garça. Exagero, uma garça idosa. E voamos. Demos rasante nas cataratas, invadimos o Paraguai, a Argentina, assustamos bois. Polika ficou silenciosa, presa de terror. Eu, macho como sou, me lembrei que tinha sido coroinha quando criança e encomendei minha alma ao todo-poderoso. O japonês ria compulsivamente. Meu maior medo (agora vem a explicação pelo sonho) não era mais cair. Era explicar o que eu estava fazendo num helicóptero, provavelmente clandestino, chegando do Paraguai. Cheguei a ver o rosto do policial ironizando: “Foi passear, não é? Você e o Japa do Pó. Turistas, né? Conhecer as cataratas... sei... todo mundo inocente. Gostaram do passeio?” Era melhor propor uma delação premiada. Mas não foi assim. Voltamos e descemos ilesos. A não ser por um tremor nas mãos, sem sequelas. Quase dei uma de papa e beijei o sagrado solo. Nunca fui tão patriota. Ao chegar no hotel, a equipe de segurança da IBM nos esperava. Levamos uma bronca digna de garotos levados. Não sei quem tinha contado nossa aventura e o pessoal não conseguia entender que merda a gente tinha na cabeça para ir voar com aquela gente. Os outros tinham aproveitado a tarde livre e foram a Ciudad del Este e comprado, dentro da lei, sem nenhum risco, uns perfuminhos ótimos, aparelhos de VHS, óculos Ray-Ban. Mas nós tinhamos uma vantagem: uma puta história para contar. Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor lulavieira.luvi@gmail.com 28 11 de fevereiro de 2019 - jornal propmark

inspiração rotina de exercícios Fotos: Divulgação “Afinal de contas, quando criamos uma campanha, produzimos um evento, desenvolvemos uma promoção, estamos falando de pessoas” Beto Marques especial para o ProPMarK Quando recebi o convite para escrever essa coluna, pensei “que bacana, será tranquilo falar sobre o que me inspira”. No decorrer, percebi que não seria lá tão fácil, pois, assim como no processo criativo, as incertezas começaram a rondar o briefing. Será que estou cumprindo a função de inspirar os leitores? Será que vão gostar? Então decidi deixar a cobrança pessoal de lado e aproveitar o fim de semana fazendo as coisas que mais me dão prazer; ficar com a minha família e fazer exercícios físicos. Brinquei muito com meu filho de dois anos e meio, fui a um aniversário com a minha mulher (importante reservar um tempo só nosso), almocei com a minha mãe e vi muitos esportes na TV. Nos intervalos, me exercitei. Corri 10 km, nadei 3.000 m, pedalei outros 40 km e lutei boxe. Sempre fui um grande amante dos esportes. Inclusive sou pós-graduado em mkt esportivo. E aqui vale uma pequena estória. Após fortes dores no peito e uma batelada de exames, ouvi do médico que minha saúde estava excelente e meu único problema era que eu estava muito acima do peso, sendo a “única” solução uma cirurgia bariátrica, pois “nunca” conseguiria perder o que precisaria por conta própria. Por volta de 50 kg. Agradeci, saí do consultório e nunca mais voltei. Do caminho liguei para minha mulher e disse que estava tudo excelente, mas que estava indo me matricular na academia. Hoje, um ano depois e 46 kg a menos, me sinto mais disposto e mais inspirado do que nunca. Retrato minha rotina de exercícios nos Stories do Instagram e muitos dos meus amigos se sentem motivados e inspirados pela minha força de vontade, mudando também suas rotinas e hábitos. E sabe por que eu te contei tudo isso? Para dizer que minha maior fonte de inspiração são as “pessoas” e as suas “histórias”. Com isso, estou novamente me desafiando. A viver de fato o momento, dando menos importância ao mundo virtual. Nenhum like, view ou comentário podem ser mais importantes do que o agora. Longe de ser hipócrita, ainda uso muito o celular, mas tenho feito um exercício diário e constante para diminuir o uso gradativamente. E tudo começou quando minha mulher me chamou a atenção pois, sem perceber, estava perdendo momentos mágicos com meu filho enquanto a vida passava bem ali na minha frente. Sim, você pode se inspirar em uma foto bonita, em um post/stories legal ou em um vídeo no grupo da família, mas a minha reflexão aqui é “Pessoas! Essas sim deveriam ser a nossa maior fonte de inspiração!”. Afinal de contas, quando criamos uma campanha, produzimos um evento, desenvolvemos uma promoção, seja o que for, estamos falando de pessoas e nada é mais importante do que ouvi-las de verdade. De “v-e-r-d-a-d-e!” Por isso gostaria de terminar essa coluna propondo um desafio. Tire o fone, desligue o celular e viva, saia com seus amigos, com sua namorada, com sua mulher ou com seu filho e viva um momento genuíno, sem celular. Tenha absoluta certeza que sairá desse encontro muito mais inspirado pois dedicou 100% do seu tempo para o que está acontecendo ali, na sua frente. E isso é a melhor sensação que podemos vivenciar nesses dias atuais. E nunca, “nunca” deixe ninguém dizer que você não é capaz de algo, você só precisa de inspiração. Se eu consegui você também “consigui” como diz minha maior fonte de amor, criatividade e inspiração, meu Antônio. Beto Marques é head de criação de brand activation da Cheil Brasil jornal propmark - 11 de fevereiro de 2019 29

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