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edição de 18 de março de 2019

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inspiração Tempo, a

inspiração Tempo, a maior moeda iStock/sorbetto “Vivi outras culturas e me cerquei de gente talentosa e determinada, afinal o mundo hoje é feito de propósitos; quem não tem propósito fica à deriva” SERGIO LIMA Especial para o PROPMARK Um homem da periferia que vendia rodo para poder pagar os estudos. Crescer com uma história dessas, tão próxima, é um combustível. É a lembrança de que para realizar sonhos é preciso arregaçar as mangas, assim como meu pai, seu Sergio, de quem herdei o mesmo nome, fez quando batia de porta em porta oferecendo a ferramenta de limpeza. Um incansável vendedor que tinha objetivos muitos claros. As lições que eu fui aprender fora de casa, logo aos 16 anos, morando no Rio de Janeiro, também falavam sobre persistir, sobre correr atrás das oportunidades, e quando fui atrás da minha, aprendi a não me sentir intimidado com aqueles que já tinham viajado o mundo e desbravado tantos países. Naquele tempo, o meu desbravar acontecia apenas diante de páginas de livros, revistas e jornais, hábito que até hoje mantenho. Ser um deles era não deixar de ser aquele cara de infância humilde, mas uma constante tentativa de aprimorar o meu jeito de me vestir, portar, cortar o cabelo... insistências da inspiração Caio Mario Paes de Andrade, um dos caras que me ensinou tudo isso. Não consegui terminar os meus estudos em tempo que a grana era curta, mas busquei todos os conhecimentos que poderia absorvendo na convivência dos mais experientes. Viajei, vivi outras culturas e quando pude, me cerquei de gente talentosa e determinada, afinal o mundo hoje é feito de propósitos; quem não tem propósito fica à deriva. E foi assim que construí minha carreira num mercado tão competitivo, lá se vão 23 anos dedicados à publicidade, envolvido com agências importantes, desenvolvendo soluções e estratégias para marcas relevantes no Brasil. Estamos, globalmente, em constante adaptação e, quando me perguntam sobre crise, digo que momento de crise só se resolve de uma única forma: foco. Você tem de encontrar um projeto, uma estratégia, colocar a sua energia nisso, quanto mais você desperdiçar tempo em projetos mirabolantes, mais em crise você vai ficar. Quando fundei a AD.Dialeto, esse era meu norte: oferecer soluções. Objetivos claros funcionam como os primeiros passos de grandes empreitadas. Assim segui quando criei a S8, Sampa, uma agência paulistana que nasceu nessa era digital e de intensa transformação nos hábitos de consumo. Com DNA 360º, o conceito de “hands on”, as palavras de ordem para o time S8, Sampa são atitude e crescimento. Depois de tantas vivências e mais de duas décadas no mercado publicitário, acho que na verdade o dinheiro é apenas um detalhe. O tempo é a nossa maior moeda! Eu tenho uma rotina cronometrada, observo a vida de dez anos para frente, mas eu vivo o hoje. Intensamente. Não fico esperando para fazer. Desbravar é preciso! Sergio Lima é CEO e sócio da agência S8, WoW 28 18 de março de 2019 - jornal propmark

STORYTELLER ferrantraite/iStock Sou um criminoso O destino não dá oportunidades. Você tem de fazê-las LuLa Vieira Existem mil maneiras de matar uma mulher. Eu escolhi a mais idiota. Quer dizer, corrigindo, não arquitetei. Mas aproveitei. Ou seja: achei que o destino tinha me dado aquela oportunidade. Como sempre, errei. O destino não dá oportunidades. Você tem de fazê-las. Mas, idiota, achei que tudo que eu tinha desejado na vida, matá- -la, surgira como uma dádiva. E eu simplesmente aceitei. É melhor, já que comecei, contar os detalhes. Não tenho ideia quem queira saber como foi um assassinato de alguém sem importância, cometido por outro alguém desimportante. Mas, sei lá, dizem que há malucos para tudo. Se fosse em um país mais civilizado eu entenderia. Um assassinato pode virar manchete de jornal ou top trend na internet em qualquer país europeu. Mas no Brasil os assassinatos fazem fila para aparecer e até urubu é seletivo e só come gente famosa. No Brasil, sem ser celebridade, não se ganha destaque na lista dos mortos por violência, a não ser que essa violência seja extremamente criativa ou fuja dos padrões. No meu caso, assassino e assassinada totalmente desimportantes, se acontecer de ganhar uma linha em alguma reportagem será porque o redator resolveu aproveitar nossos nomes e mostrar inteligência. “Margarida morta a golpes de Machado”. Você entendeu. Machado é meu nome, Margarida, o da falecida. Falecida, entendeu? Vai virar vítima só quando alguém desconfiar que não foi acidente o que aconteceu com ela. Milhares de pessoas escorregam na escada, caem e quebram o pescoço todos os dias. Principalmente se a escada é escorregadia, como a escada de nossa garagem, revestida de ladrilhos e com uma fina camada de fuligem. Nós somos classe média-média. Temos uma casa classe média, com um carro classe média na garagem, num bairro classe média. Vamos ao shopping passear, almoçamos num restaurante a quilo na Praça de Alimentação e pegamos um cineminha no sábado. Não temos filhos. Não tinha nenhuma razão para matá-la. Então, ela não foi morta. Simplesmente ela morreu, coitada, caindo de uma escada que leva à garagem. Então para que a morte dela vire notícia de jornal, é preciso que alguém desconfie que não foi acidente. Só eu sei que não foi e já fico pensando nela como assassinada. É um problema a cabeça da gente. Ela morreu por acidente. Porque escorregou na escada da garagem e rolou uma porção de degraus até se estatelar ao lado do carro. É bem verdade que a filha da puta caiu viva, falou até palavrão, como seu estilo boca-suja. Mas interrompi seu “putaqueopariu” com uma porrada nos cornos. Quer dizer, segurei a escrota pelos cabelos e bati com a cabeça dela no chão de cimento. Se fossem outras as circunstâncias, outras pessoas, outras vidas, seria o caso de registrar as suas últimas palavras como um legado às gerações futuras. Mas não vejo quem se beneficiaria sabendo que Margarida revirou os olhos e deixou para a posteridade apenas uma expressão: “caralhooooooooo”. Com um ar de espanto que não teve nem quando conheceu o meu impávido colosso, apresentado com toda formalidade também numa garagem. Engraçado estou escrevendo uma confissão sem precisar. Bem, o fato é que hoje estou sozinho. Não me arrependo de ter matado minha mulher. Há anos ela não me ouvia, ou seja, ela me matou antes de eu matá-la. Pelo menos eu fui explícito. A escrota não. Matou- -me dentro dela. O triste disso tudo era que eu não podia contar para ninguém. Agora eu pensei: foda-se. Tenho uma história. Finalmente alguém vai me ouvir. A merda vai ser provar que não sou louco. Não quero ficar no hospício contando que matei minha mulher e ouvir de volta que meu interlocutor invadiu a Rússia. Tenho dois problemas: acreditarem que a morte de minha mulher não foi acidente e que não estou maluco. Preciso achar um bom advogado. Você conhece algum? Se for mulher, melhor ainda. Eu preciso de uma advogada para fuder com o cliente. Entenderam? Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor lulavieira.luvi@gmail.com jornal propmark - 18 de março de 2019 29

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