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edição de 18 de novembro de 2019

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STORYTELLER Praveesh

STORYTELLER Praveesh Palakeed/Unsplash Três histórias policiais Como todo cristão, sou culpado LuLa Vieira secretária me exibiu o cartão de um dos A homens na antessala. Hermes de Oliveira Filho. Departamento de Ordem Política e Social. Um frio me escorreu pela espinha. Como todo cristão, sou culpado. Eles me acharam! Alguma eu fiz, sem dúvida. Uma vida inteira de iniquidade finalmente ia receber a justa pena. A Justiça tarda, mas não falha. Onde eu coloquei o telefone do Técio Lins e Silva? O que minha mulher vai dizer? Os meus amigos, o que vão pensar? Será maldição do apelido? Será que ainda comem rabo de preso na delegacia? E se eu pular pela janela? Já sei: não estou, não fui eu, sou a favor deste governo. Aliás, de todos os governos, desde que meu tio coronel do Exército me ensinou a amar a pátria acima de tudo. Melhor: eu não sou eu, sou outro. Carlos. Sim, o Carlinhos da contabilidade. O sr. Lula não veio hoje, aliás, não está vindo há muito tempo. A secretária me olha perplexa e impaciente: “O que digo para eles?” Diga qualquer coisa, respondo. Como qualquer coisa? Qualquer coisa é... qualquer coisa. Assim como, sei lá! Finalmente me recomponho um pouco e digo para a moça colocar os visitantes para dentro. E sento, pois de pé não consigo ficar. O que os senhores desejam? Resposta: “É que temos uma revista que circula entre os servidores...” *** Vinícius de Morais tinha um tio delegado de polícia, dr. Melo Morais. A jurisdição de sua delegacia incluía a Avenida Beira Mar, em Copacabana, que, na época, não possuía o paredão de edifícios de hoje. Estou falando do início da década de 1950, quando a maioria das construções na orla era de casas. Dr. Morais, numa madrugada modorrenta, estava de plantão, pensando em qual botequim deveria ir para se encontrar com os amigos, quando entra uma senhora muito nervosa e exige ser atendida pela maior autoridade presente. Era ele. E a cocoroca, tal como a chamaria Stanislaw Ponte Preta, indignada, faz uma denúncia. Havia flagrado, na arrebentação, um casal “fazendo indecências”. Dr. Mello, compenetrado, mune-se de papel e caneta e começa a registrar a ocorrência, com a maior seriedade. “Não me diga, minha senhora, estavam em conúbio em pleno logradouro marítimo? Em conjunção carnal, expondo suas indecências aos transeuntes? Como a senhora logrou surpreendê-los?”. A mulher explicou que subira numa duna e de lá pudera ver tudo. Dr. Mello Morais quer detalhes. “Quer dizer que alguém na calçada, ou mesmo num coletivo, não poderia observar esse ato imoral?” A velhota concorda. Não, não poderia. Dr. Morais tira os óculos e sentencia: “infelizmente, sou obrigado a detê-la!” E ante o espanto da velha explica os rigores da lei: “A senhora acaba de confessar que violou a privacidade de dois cidadãos e isso é passível de punição! Vou detê-la até um juiz determinar qual a pena que lhe será imputada. Mas, como não há nenhum magistrado de plantão a essa hora, serei obrigado a mantê-la em custódia até a corte poder ouvi-la, ao mesmo tempo que requererei a presença das vítimas”. Dr. Melo teve de admitir que era brincadeira, antes que a velhota fosse reclamar diretamente ao Pai Eterno a prática de atos libidinosos na praia de Copacabana. *** Doutor Melo Morais é também protagonista de um episódio que o pessoal da velha guarda contava nas (antigas) longas noites de plantão. Por incrível que pareça, já teve época que a delegacia da Zona Sul passava horas sem nenhuma ocorrência. Estava a tiragem dedicada ao jogo da porrinha, valendo o chope no boteco ao lado, quando toca o telefone. Dr. Melo atende. E recebe uma reclamação indignada de um cidadão que diz não poder dormir porque na casa ao lado da sua estava havendo uma festa. Ele pega o lápis (não havia computador na época, assim como não tem hoje. Na época porque não tinham inventado. Hoje porque não pagaram a rede). Voltando: dr. Melo pega lápis e papel, anota o endereço e exclama: “Mas esse endereço é a casa do Herivelto Martins! Estou indo imediatamente para aí, cidadão!” E mune-se do violão e parte para o local da ocorrência. Louco da vida por não ter sido convidado. Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor lulavieira.luvi@gmail.com 24 18 de novembro de 2019 - jornal propmark

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