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edição de 2 de março de 2020

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STORYTELLER Pedacinhos

STORYTELLER Pedacinhos coloridos de saudade Mesquinharia, tacanhice, falta de empatia e ignorância são expostas nas redes sociais Jason Leung/Unsplash LuLa Vieira Face é como uma mina de ouro. Pra O encontrar algo que presta é preciso aguentar muito barro. Às vezes mergulho em busca de alguma coisa e antes de ter a sorte de me deparar com algo que presta, fico enojado com tanto preconceito, burrice e raiva que encontro nas redes sociais. Se eu ainda precisasse de provas de que o ser humano é inviável, bastaria procurar a resposta nos posts. Mesquinharia, tacanhice, falta de empatia e ignorância são expostas nas redes sociais como as vísceras de um animal no matadouro. Mas, na vida há sempre um “mas”, há o outro lado. E foi nesse lado, na internet azul, que encontrei um dia (salve Ari Barroso!) o blog de um cara chamado Giulio Sanmartini, que eu não conhecia, que é da maior qualidade. Recomendo procurar e seguir. O blog é de uma comunidade de amigos, pois tudo indica que Giulio morreu em 2013. O nome é uma homenagem. Nesse blog, encontrado por absoluto acaso, foi publicada uma história que eu acho uma delícia, envolvendo Daniel Filho, Edu da Gaita, Aurimar Rocha, Paulo Pontes, Portinari, Pedro II e... Lampião. Que eu me lembre, já contei esse caso numa coluna aqui do PROP- MARK, mas deve ter sido há tanto tempo que nem meu HD externo se lembra. O texto do blog lembra vagamente meu estilo, se é que eu tenho isso. Em resumo, não sei se fui eu que escrevi. Na maior desfaçatez reproduzo aqui toda a coluna do blog, agradecendo a honrosa menção. Abro aspas. “Esta história me foi contada pelo jornalista e amigo Moacir Japiassu, na última vez que estive no Brasil (2006). Fiquei uma semana em Cunha (SP), onde ele mora retirado da civilização selvagem. Nossos papos eram infindáveis e em um desses ele me contou algo que ouvira, do também jornalista Lula Vieira: ‘Estavam no Fiorentina, o bar/restaurante do Rio, em que se reunia a fina flor dos intelectuais e metidos a intelectuais do país. Estavam sentados na mesma mesa o diretor de TV Daniel Filho, Edu da Gaita, Aurimar Rocha e Paulo Pontes, cada um relembrando histórias da infância. Os trabalhos foram devidamente abertos com o Daniel contando que uma vez sua bisavó foi convidada para montar um dos cavalos de D. Pedro II, na Hípica Imperial, e que, enquanto a senhora evoluía pela pista, o imperador gentilmente carregava o filho dela, futuro avô do narrador. O melhor de tudo é que o garoto a certa altura fez um alegre xixi na roupa de D. Pedro II, que teve de mandar pedir no palácio outra calça de montaria. Ou seja: o avô de Daniel, com seis meses de idade, já se revelava um republicano convicto, capaz de colocar o imperador numa situação delicada. O Paulo Pontes, com a cara amarrada de nordestino bravo, vestindo umas sandálias de couro parecendo figurante de filme de cangaceiro, ouvia com expressão de infinita tristeza. Daí o Edu da Gaita contou que tinha feito uma música sobre um poema de Pablo Neruda e, quando tocou para o Portinari, Candinho ficou tão encantado que fez imediatamente um quadro inspirado na composição. E que o Neruda, mais tarde, conhecendo a música e a história, assinou com Pilot sobre o quadro, agradecendo a lembrança dos dois. Ou seja: Edu tinha em casa um quadro de Portinari com autógrafo do Pablo Neruda. Paulo Pontes ouvia calado. Daí Aurimar Rocha contou que quando era menino morava na Rua Paissandu, caminho habitual de Getúlio Vargas indo para o Palácio do Catete. Aurimar garantiu que toda vez que o presidente passava, ele ficava em posição de sentido, batendo continência. E Getúlio retribuía a saudação, também solene. E que, em seguida, o garoto e o ditador trocavam umas ideias. E Paulo Pontes cada vez mais acabrunhado. Quando chegou a vez dele contar sua história, não pareceu encontrar nada de empolgante. Ficaram todos esperando ele cavoucar na memória alguma coisa à altura de um imperador mijado, um quadro de Portinari autografado pelo Neruda ou do garoto amigo do Pai dos Pobres. Depois de muito tempo pensando, Paulo pediu mais uma birita, olhou o mar, pigarreou, acendeu um cigarro e começou: ‘Eu tenho um primo, lá na Paraíba, que comeu o cu do Lampião…’” Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor lulavieira.luvi@gmail.com 28 2 de março de 2020 - jornal propmark

inspiração Fascinante! Fotos: Brunel Johnson/Unsplash e Arquivo Pessoal “Temos em cada olhar que cruzamos aquele sorriso simpático que só no metrô da meia-noite em Londres você encontra de estranhos” Raquel PiRola especial para o PRoPMaRK Foram quase 18 anos que fiquei morando fora. Sair do país com 10 anos de idade e descobrir na sua volta que de brasileira você tem pouco mais que o sotaque, não é tão simples assim. Voltar depois de 12 anos de formação profissional em Londres e cair em uma empresa carioca é, no mínimo, uma comédia da vida real dessas que ninguém pensou em escrever. E que sorte a minha. Este ano, celebro 9 anos de volta ao Brasil. Levei quase 6 anos para perceber que tive sorte e, talvez, apenas nos últimos 2 ou 3 anos percebi que nós, hoje, vivemos, sim, em um país incrível. Mas deixa eu te explicar melhor. A Europa sem dúvida é fascinante. Tem história em cada cantinho, mobilidade impecável e sua palavra basta. Isso sem falar de saúde pública, escola pública, onde tudo funciona muito bem, obrigada. Fazer carreira em Londres é mágico e me sinto, sim, privilegiada. Lá é um mercado que lança tendência, tem o próprio ritmo e seu charme e ousadia são únicos. Por outro lado, é um lugar cinza, daqueles com pé-direito baixinho, sabe? Você não precisa olhar para cima para ver as nuvens – elas estão logo em cima da sua cabeça. Lá, você entra às 7h30 no escritório e sai às 18h. Almoça um sanduíche pronto sentado à mesa e, como dizia um amigo, desses de comer com uma mão só porque a outra continua trabalhando. Isso sem contar os amigos que você não faz no trabalho – não porque não quer, mas pelo simples fato de que as relações, de maneira geral, não são prioridade. Ao final do expediente, para voltar à vida, é preciso algumas pints e, assim, vão-se construindo relações daquelas bem superficiais. Mas, é altamente produtivo. A Europa é um lugar onde se vive bem, com alguns perrengues, claro. Mas, como dizem, é “perrengue chique”, afinal, você está na Europa. Mas, o que temos aqui no Brasil, apesar de toda dificuldade, é encantador. Vivemos em um país-continente, um território composto do mundo inteiro. Quem já teve o privilégio de abrir um cardápio em Belém do Pará (onde você conhece apenas 20% dos ingredientes) sabe do que estou falando. País recheado de paisagens deslumbrantes e não precisa ir longe não: visite uma praia do litoral de São Paulo e derreta-se. Somos uma mistura poderosa que vem crescendo e ganhando uma força incrível. Temos a força de humanidade onde, pelas boas ou más razões, nunca se discutiu tanto o bem-estar coletivo e o que queremos de fato. Onde a iniciativa privada vem olhando o que está à sua volta, a fim de fazer diferente. Há, sim, uma nova leva de humanidade emergindo. Estamos longe de sanar todos problemas na velocidade que gostaríamos, mas, para quem busca propósito na vida, este país transborda de possibilidades. Pos- sibilidade de se desenvolver como ser humano, fazer o bem e se transformar. Possibilidade de pensar menos em si e mais no coletivo. Cada um carrega uma história incrível. Somos uma linda mistura de níveis, culturas e diferentes etnias trabalhando lado a lado. É criatividade que exala. Aqui, não está tudo pronto e essa é nossa maior riqueza. Para coroar esses quase 10 anos de Brasil, tive mais uma vez o privilégio de passar 30 dias estudando fora com outras 24 nacionalidades. Foi fora, nesse convívio riquíssimo, que me dei conta, de uma vez por todas, que essa é a minha pátria amada. Temos por 11 meses do ano aquele sol que faz o europeu se transformar por apenas 2. Temos, em cada olhar que cruzamos, aquele sorriso simpático que só no metrô da meia- -noite em Londres você encontra de estranhos. Temos céu azul todos os dias. Temos um mercado crescente de pessoas a fim de fazer acontecer e que vêm se transformando – basta olhar o Brasil de 20 anos atrás e o Brasil de hoje. Somos o mais ocidental dos mercados emergentes. Aqui, fazemos amigos e nos divertimos no trabalho. Celebramos a vida e temos tudo para olhar o copo meio-cheio todos os dias. O amanhã na sua incerteza traz consigo a vantagem de viver um dia de cada vez e não o mesmo dia 365 dias no ano. Só precisamos querer enxergar, afinal, esse país é lindo demais. Raquel Pirola é diretora de inovação da divisão de varejo da Luxottica no Brasil jornal propmark - 2 de março de 2020 29

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