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edição de 8 de abril de 2019

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we mkt ColobusYeti/iStock Sergio Rial, um banqueiro circunstancial “Circunstâncias? Eu crio as circunstâncias”. Napoleão Bonaparte Francisco alberto Madia de souza Não fosse uma mulher, Sergio Rial jamais seria o comandante de um dos três maiores bancos privados do país. Formado em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e economia na Gama Filho. Tem toda uma formação no mercado financeiro. Já trabalhou por 18 anos no ABN Amro, e ainda mais dois no Bear Stearns de New York City. E a partir daí desistiu do mercado financeiro e foi para a indústria. De 2004 a 2012, faz carreira na Cargill, é indicado pelo Conselho de administração da Seara e assume a posição de CEO da Seara Foods. Em 2014, a presidência do Marfrig, e em 2015 é convencido por Ana Patricia Botín, a toda-poderosa do Santander, a retornar ao mercado financeiro e assumir a posição de CEO do banco, em janeiro de 2016. Dois anos depois, na festa de Natal do banco, dezembro de 2017, desce por uma corda vestido de Homem Aranha. Não consigo imaginar, naquele momento, Roberto Setubal, ou o Trabuco, fazendo o mesmo. Rial é estranho, diferente, verdadeiro. Em palestra realizada em março de 2018, para o Grupo Mulheres do Brasil, fez confissões pouco convencionais. Disse-se covarde por ter deixado o banco onde trabalhou durante 20 anos, o Real ABN Amro, “deixei muita gente que ficou até o final do processo de venda do banco, pulando do barco... olhando para trás vejo que cheguei à praia, mas muita gente morreu no mar”. Ou, na mesma palestra, quando confessa: “saí do Brasil muito cedo, em 1988, e fiquei 25 anos fora. Boa parte da razão dessa saída, além da missão profissional, também era uma fuga...”. Esse é Rial, escolhido por Ana Patricia Botín. O mais diferente dos comandantes de bancos em nosso país. Faz-se presente em edição da revista Época Negócios, de número 140, e volta a surpreender. Ou, reiterar, ser diferente. Bradesco e Itaú plantaram suas sementes de futuro na Paulista. Santander no Centro Velho, com seu Farol Santander. Onde um dia foi o Banespa. Santander faz parceria com a São Paulo Fashion Week. Rial explica: “A moda faz parte de uma equação maior, da economia criativa. Existe toda uma cadeia – costureiras, maquiadores, escolas, criação, design...”. Época Negócios provoca... “A estratégia do Santander como Farol é diferente do Bradesco e do Itaú, que optaram por espaços abertos dedicados a inovação e startups...”. Rial: “em verdade, até agora, nenhuma empresa encontrou o modelo certo no processo de inovação. Da IBM à Microsoft, todos procuram seu modelo. No que nos toca, Santander, acredito que a transformação tecnológica passa pelas pessoas e pela transformação cultural. E transformação cultural não é no paralelo, é no epicentro... é mais difícil, custa mais, mas é onde se vence todas as resistências...”. Rial acredita que, para evoluir, é necessário contrariar um traço característico do brasileiro que detesta e foge de conflitos... “O conflito não significa falta de respeito, mas, simplesmente, vamos debater, vamos discutir. Em paralelo é preciso desconstruir os organogramas clássicos. Estruturas verticais adequadas às decisões técnicas, mas ineficazes em questões mais abrangentes...”. E sobre o Brasil, o cosplay de Homem Aranha, por um momento e numa linda festa, disse: “O Brasil é hoje um conjunto de privilégios e ninguém revela- -se disposto a abrir mão. Todos têm explicações e justificativas razoáveis. Mas, acontece que as contas não fecham. Seja qual for o novo presidente – a entrevista foi antes da eleição – todos terão, enfatizou Rial, de ceder. É o que acontece em momentos de concertação...”. Assim, amigos, um líder de um banco absolutamente diferente. Na pior das hipóteses mais divertido, irreverente, questionador e trilhando caminhos que podem levar ao futuro, diferente dos dois principais bancos privados do país. O tempo dirá. Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing famadia@madiamm.com.br 32 8 de abril de 2019 - jornal propmark

STORYTELLER FotoDuets/iStock A viagem de ida A Chapecoense tinha ido muito mais longe do que poderia sonhar LuLa Vieira avião fretado pela Chapecoense levava, além dos jogadores, integrantes da O equipe técnica, dirigentes e alguns jornalistas convidados, entre eles Rafael Henzel, um radialista gaúcho, que trabalhava na Rádio Oeste Capital, em Chapecó, locutor muito conhecido na cidade. Todos estavam indo para Medelin, onde o time da Chapecoense jogaria contra a equipe local. Nunca o time literalmente fora tão longe. Era o jogo decisivo para a Copa Sul-Americana. Caso a Chapecoense ganhasse, e a equipe já estava acostumada a ganhar, seria um dos maiores feitos, entre os times considerados pequenos, de toda história do futebol brasileiro. O clima era de euforia. A delegação saiu de Chapecó como um grupo de heróis capazes de reescrever a história do futebol no Brasil. Para a cidade de tamanho médio, para os jogadores e dirigentes, tudo soava como aventura. Clube com poucos recursos, se comparado com os grandes das capitais, a Chapecoense tinha ido muito mais longe do que poderia sonhar. Seria a maior e mais gloriosa jornada já empreendida por uma agremiação de seu porte. Talvez o Santos, vá lá. Mas além de a cidade de Santos ser maior, contou com a incrível bênção de ter em sua equipe o melhor jogador de futebol de todos os tempos, o que invalida qualquer comparação. Enquanto a cidade de Chapecó e o time de futebol viviam a expectativa para o jogo, os dirigentes se ocupavam em conseguir o voo mais barato para a delegação. Cada centavo economizado fazia muita diferença. Uma concorrência de preços fez com que a companhia LaMia fosse a vencedora para levar os jogadores de Santa Cruz de La Sierra para a capital colombiana. Era uma empresa já conhecida pelo clube, cobrava preços baixos e ainda por cima ofereceu como brinde a adesivação da aeronave com as cores e o escudo da Chapecoense. Rafael era amigo de todo mundo no avião. Além de radialista conhecido, era um boa gente. Durante a viagem foi pulando de banco em banco, para conversar e até mesmo por uma brincadeira entre os jogadores, que várias vezes o expulsaram das poltronas que sentava por motivos fúteis, como por exemplo proibi-lo de ficar no mesmo lugar que um dia fora ocupado por Leonel Messi. E assim acabou ficando numa poltrona do meio na última fileira. E foi por estar lá que sobreviveu. Essa experiência, de não ter morrido por um detalhe, fez Rafael pensar muito na vida. Escreveu um livro, que eu participei da elaboração final e da própria criação do título: Viva como se estivesse de partida. Contratado pela Editora Globo, contribuí na criação da capa, de autoria final da Maria Clara Thedim, e dei meus pitacos na contracapa e nos textos da orelha. O livro, em resumo, traz as reflexões de alguém que, por ter visto a morte de perto, pensou muito na vida. É um livro pequeno, 120 páginas, mas é um convite para a gente pensar que num instante tudo pode acabar para nós e essa consciência pode servir para alguma coisa enquanto estivermos por aqui. Vendeu razoavelmente e Rafael tocou sua vida, voltando para sua emissora e tentando aproveitar ao máximo a prorrogação de seu tempo de existência. Mas tal como no futebol, a vida é uma caixinha de surpresas. Na semana passada, jogando uma pelada com os amigos, teve um ataque cardíaco e morreu. Tinha chegado a sua hora. Ontem fui reler o livro e abri a esmo. Na página que li, o autor reflete sobre a razão de estar vivo. E escreve: “são várias correntes de pensamento das quais as pessoas se alimentam. Elas têm de acreditar em alguma coisa. Naquela viagem, aparentemente a missão de todos já estava completa na terra, ao contrário da minha (...) nós saímos de São Paulo em um grupo de 77 pessoas e apenas seis entre nós voltaram com vida. Quantos abraços não foram dados, quantas brigas não foram resolvidas, quantas picuinhas bobas não ficaram no ar? Quantas coisas foram deixadas para trás? (...) Penso muito no que me fez estar aqui e qual a missão que isso acarretou. Todos nós temos uma missão”. Claro que aos espíritos mais céticos – e eles são muitos – não há uma única descoberta para fazer neste caso. Ele sobreviveu, passou um ano vivo, escreveu um livro e morreu jogando futebol. Mas se a vida fosse só isso, pensando bem, que graça teria? Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor lulavieira.luvi@gmail.com jornal propmark - 8 de abril de 2019 33

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