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edição de 9 de dezembro de 2019

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inspiração Mengo!

inspiração Mengo! “Propaganda foi a resposta para a vontade de mudar de assunto o tempo todo. O meu assunto. E, quem sabe, o assunto dos outros” Fotos: Arquivo pessoal AntoniA Z0bArAn Especial para o ProPMArK Ano sim, ano não, era isso. Chegava o momento em que eu tinha de preencher o campo “profissão do pai”, provavelmente em algum exercício ou homenagem ao Dia dos Pais da escola. Na primeira vez, a resposta foi “jornalista”. Na segunda, eu fui perguntar. Não cabia no campo “pessoa que recebe os artistas no Rock in Rio”. Na terceira, respondi mais rápido: assessor de imprensa. Na quarta, já não era mais isso. Escritor. Na quinta, tive de espremer um pouco a letra para preencher com “promotor de eventos”. Na sexta, eu estava na dúvida: ou a escola era pouco criativa ou não prestava atenção no que perguntava ou estava de sacanagem comigo, esperando a resposta da vez. Hoje vejo que essa troca bienal com meu pai sobre trabalho era só o começo do nosso tema de conversa que dura até hoje. E de algo que nunca mais saiu do meu universo: a mudança. A mudança me move de um jeito bastante literal: já tive 12 respostas para o campo “endereço”. E, só em saber que escreveria este texto, mudei umas oito vezes de opinião sobre o que escrever. Depois de alguns anos trabalhando em propaganda, procurei por um plano B. Alguma coisa que eu “realmente quisesse fazer” que não essa profissão. Como eu poderia gostar do que eu faço? Não ter o tal plano B? Tentei ir na origem da questão. E briguei algumas vezes com a minha mãe porque eu não tinha um hobby. (Aquele hobby viraria meu plano B. Não é assim que é pra ser?) Logo ela, que me colocou na natação, no ballet, no jazz, no sapateado, no curso de culinária, no hip hop, no teatro e no piano. E aos poucos fui descobrindo que eu achava – e ainda não mudei de opinião – chato ter um assunto só. E assumir quem eu sou e do que gosto me libertou. Propaganda foi a resposta para a vontade de mudar de assunto o tempo todo. O meu assunto. E, quem sabe, o assunto dos outros. Ela está sempre envolvida com alguma novidade, com pessoas diferentes, com uma tecnologia que acabou de surgir, mudando conforme o mundo muda. Como podem as coisas ser tão estabelecidas? As coisas não são. Elas estão. Ser é muito passivo. Estar é mutante. Se a gente quiser ser, tem de estar sempre fazendo por onde. O tal do regar, se oxigenar, se reinventar. Exercitar a empatia e se colocar no lugar do outro para criar novos pontos de vista. E pensar em como eles podem conviver com os que a gente já tem. Inspira-me a minha avó, que depois de 82 anos vividos e da morte do meu avô, com quem foi casada por 60 anos, virou garota-propaganda de um supermercado e começou um novo ciclo de vida. Sabe lá o que aconteceria depois do primeiro “sim”. Mas ela teve coragem de mudar. Meus avós, agora os homens, me disseram que Fluminense era o meu time de futebol. E time de futebol é de coração, certo? Meus avós morreram e entendi que o amor que eu tinha era por eles, e não pelo Fluminense. Como já achava a combinação de verde-escuro e grená meio cafona, tirei um pouco do preto das duas cores e, quando me perguntavam qual era o meu time, passei a responder: Mangueira. Acho que, se desfile de escola de samba fosse parado, eu não amaria tanto. Mas como a ideia é ir de um lugar pro outro... Há dois anos e meio, minha filha e eu estamos fazendo aula de violão juntas. Semana passada, ela acordou e falou: mãe, não quero mais fazer aula de violão. Quero mudar pra guitarra. Mengo!” Antonia Zobaran é diretora de arte da AlmapBBDO 28 9 de dezembro de 2019 - jornal propmark

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